É com os primeiros raios de sol que o Cordão do Peixe-Boi 2011 celebra a cultura popular e o meio ambiente. O cortejo realizado pelo Instituto Arraial do Pavulagem terá, pela primeira vez desde sua criação em 2003, uma alvorada para esperar o Peixe-Boi, chamada de “Brilho da Aurora”. A programação começa às 5 horas na Escadinha da Estação das Docas, com músicas escolhidas especialmente para o momento e já disponíveis no blog do Instituto: www.arraialdosaber.blogspot.com/
Inspirada nos antigos cordões de bicho, a festa tem como símbolo o peixe-boi, um brinquedo construído de sucata para simbolizar a preocupação com a floresta, com a degradação ambiental, com a pesca predatória. E como se emergisse das águas da Baía do Guajará, ele sobrevoa a multidão e traz das profundezas do rio a denúncia do desrespeito com o meio ambiente. “É um exercício de cidadania cultural e ambiental na Amazônia, é uma celebração festiva interativa popular, resultante de uma metodologia que evoca a transmissão de saberes e fazeres tradicionais, desencadeados por meio de oficinas, rodas cantadas, ensaios abertos, seminários, entre outras formas de ensinoaprendizagem promovidas pelo Instituto”, explica Walter Figueiredo, produtor cultural do Instituto Arraial do Pavulagem, e um dos idealizadores do Cordão do Peixe-Boi.
Ensaio para o Cordão do Peixe-Boi
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A 9ª edição do cortejo conta com o apoio do Governo do Estado, Prefeitura Municipal de Belém, Sindifisco (Sindicato dos Auditores da Receita Federal do Estado do Pará), da EntreAtos Companhia de Artes, Asflora (Instituto Amigos da Floresta Amazônica) e Associação dos Produtores Orgânicos do Estado do Pará – Pará Orgânico. Em 2011, o evento sofreu modificações para resgatar a essência do projeto. Primeiro saiu do período carnavalesco para evitar comparações com a festa e tentar reverter distorções acumuladas com o passar dos nos, como o consumo de bebida alcoólica. Os horários foram repensados: tudo vai começar e terminar cedo, para que as crianças e os idosos também participem. E até o trajeto ganhou novos caminhos – o encerramento na Praça do Carmo será agora na Praça dos Estivadores e percorrerá o entorno do local.
“Somos uma escola sem paredes e nesse local a bebida não viabiliza nada. A bebida não pode ser comparada com o exercício cultural, a criança e o idoso estavam sendo expurgados desse espaço. A prioridade para nós é fortalecer a cultura popular fora de uma atmosfera contaminada. A medida para a vida exige uma mudança qualitativa, a retirada do cortejo do carnaval é para preservar a nossa imagem e a nossa história, que construímos ao longo do tempo”, afirma Ronaldo Silva, músico do grupo Arraial do Pavulagem, pesquisador cultural do Instituto e um dos principais defensores da retomada às origens do projeto do Peixe-Boi.
Quem não puder participar da alvorada, a concentração do cortejo inicia às 7 horas na Escadinha, com saída prevista às 8 horas em direção ao Ver-o-Peso e retorno para a Praça dos Estivadores. O novo local foi escolhido por ficar em frente à sede do Instituto Arraial do Pavulagem e por se configurar como espaço que precisa ser valorizado culturalmente tanto pelo poder público, como pelos moradores da cidade. Na Praça, haverá uma ‘Roda Ancestral’ com a execução de ritmos e danças de origens africana e indígena, em conexão com a nossa matriz ribeirinha. O grupo Arraial do Pavulagem e convidados fazem o show de encerramento do cortejo, programado para 10 horas da manhã.
Feira, teatro e plantas
Em parceria com a Associação de Produtores Orgânicos do Estado do Pará – Pará Orgânico, o Instituto Arraial do Pavulagem vai realizar, ainda, uma Feira de Produtos Orgânicos que será montada na Praça dos Estivadores, com venda de hortaliças (alface, couve-flor, cheiro verde), frutas regionais (cupuaçu, pupunha), flores tropicais, plantas medicinais e ornamentais, e produtos fitoterápicos, trazidos de vários municípios do Estado, como Irituia, Benevides e Santo Antônio do Tauá.
Por não utilizarem insumos agrícolas, na maior parte dos casos, os produtos orgânicos são bem mais caros do que os produtos à base de agrotóxicos. No entanto, na Feira os próprios produtores vendem diretamente sua produção para o consumidor, barateando o valor dos itens. “Ao venderem direto para o consumidor, a diferença de preço, em média, é o mesma dos produtos convencionais. E em termos de qualidade nutricional, os produtos orgânicos não têm comparação”, afirma Henrique Oeiras, diretor de produção do Pará Orgânico.
Além da Feira, o Instituto promoverá uma doação de 200 mudas de plantas de espécies frutíferas (andiroba, ingá, açaí, fruta-pão e jatobá), por meio do Instituto Amigos da Floresta Amazônica – Asflora. Entidade civil sem fins lucrativos, a Asflora foi criada em 2000 e tem como missão educar, preservar, reflorestar e promover o intercâmbio de informações a partir do princípio do desenvolvimento sustentável da região amazônica. A ONG trará na bagagem para o cortejo outra ação que desenvolve no Estado: o “Teatro de Floresta”, com personagens como a ‘Mãe Natureza’ e o ‘Curupira’, no intuito de fomentar o diálogo sobre a proteção da natureza e a melhor forma de conviver com ela, com temas sobre a flora, fauna, dispersão de sementes, reflorestamento, manejo florestal, desenvolvimento sustentável, queimadas e contaminação de recursos hídricos.
Crianças e adolescentes
Desde o dia 15 de março, sempre nas manhãs de terça e quinta-feira, mais de 100 crianças e adolescentes, do Colégio Dom Mário, no bairro da Cidade Velha se prepararam para participar do Cordão do Peixe-Boi. As atividades ocorreram através de um projeto da escola, a Resenha Literária, que este ano tem como tema a questão ambiental, e a parceria do Instituto. Além das oficinas de canto, os alunos também participam de uma oficina de confecção de adereço, promovida aos sábados, desde fevereiro, pelo cenógrafo Luís Girad, para construir mais precisamente um jacaré. O animal foi escolhido em uma votação pelos estudantes do maternal ao nono ano para representar o colégio durante o cortejo.
Músico Allan Carvalho durante oficina de canto no Colégio Dom Mário |
“Essa é uma experiência inovadora. Aqui na escola a gente está tentando passar para os meninos que cultura é algo que faz parte da vida, que o que eles estão vivenciando aqui é uma experiência de vida. A cultura traz uma série de conhecimentos e se a escola não for a transmissora disso, quem vai ser? Cultura é conhecimento, e é papel da escola promover essa conscientização. E fazer isso de uma forma mais lúdica, mais prazerosa, porque só falar não funciona”, acredita Rosângela Melo, coordenadora do projeto Resenha Literária.
Serviço:
9º Cordão do Peixe-Boi
Data: 27 de março (domingo)
Horário do ‘Brilho da Aurora’: 5 horas
Horário de saída do cortejo: 8 horas
Local de concentração: Escadinha da Estação das Docas, no bairro da Campina em Belém
Fotos de apoio: http://www.flickr.com/photos/pavulagem/
Contatos para imprensa: Yorranna Oliveira – Assessoria de Imprensa Instituto Arraial do Pavulagem (8401-8286)
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