domingo, 25 de março de 2012

Uma celebração ao nascer do dia

O peixe-boi resiste em meio a uma guerra entre o homem e o meio ambiente, uma guerra que o mundo moderno parece sem tempo para perceber. Mas neste domingo, 25 de março, ele emerge das profundezas dos rios da Amazônia para lembrar aos moradores da cidade que a vida não é possível sem cultura e cuidado com o planeta, e se torna o símbolo de um dos principais cortejos do Instituto Arraial do Pavulagem, o Cordão do Peixe-Boi.

Nas ruas do bairro da Campina em Belém, o Cordão mostra que a cultura popular e a educação ambiental podem ajudar no desenvolvimento de uma sociedade sustentável, onde o ser humano não agrida opróprio lugar que habita: a floresta. A programação do evento começa às 5h na escadinha da Estação das Docas e encerra ao meio dia na Praça dos Estivadores.

 “O Cordão do Peixe-Boi acrescentaem nosso olhar um cuidado necessário com o lugar onde nascemos, moramos e trabalhamos. A floresta amazônica é, para todos nós, sagrada e vital. É nossa inspiração, nossa respiração, nossa mãe, nossa casa. Entendemos que este brinquedo popularvem, de maneira oportuna, reunindo vários segmentos culturais em torno do eixoque analisa e reflete a utilização dos espaços públicos, sobre o lixo, apoluição sonora, a segurança e, o mais importante, a inclusão cultural dejovens, adultos e crianças”, explica Ronaldo Silva, compositor, pesquisador cultural e fundador do Instituto Arraial do Pavulagem.

Criado em 2003, o Cordão tem patrocínio do Governo do Estado do Pará, Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, Prefeitura Municipal de Belém, Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel) e Lei de Incentivo Municipal Tó Teixeira e Guilherme Paraense. É realizado pelo Instituto Arraial do Pavulagem, uma organização autônoma e sem fins lucrativos da sociedade civil. A entidade desenvolve ações de educação cultural por meio da transmissão de saberes de diferentes linguagens criativas, utilizando metodologias e recursos pedagógicos para fomentar o ensino e o aprendizado do público que participa das atividades. Esse conhecimento é vivenciado através de oficinas e ensaios públicos, cortejos, apresentações artísticas, seminários, feiras, entre outros produtos culturais, ganhando novas possibilidades na rua, no meio do povo, no centro urbano da cidade durante o Cordão.

Às 5h tem início o Brilho da Aurora, um momento para celebrar o nascer do dia, inspirado nas alvoradas das festividadesde santos do interior do Pará, reunindo música e poesia no cais da Escadinha da Estação das Docas. A apresentação é um convite para contemplar os primeiros raios da manhã e repensar horários mais saudáveis para a prática cultural em espaços públicos. Representa a esperança, a renovação e o despertar da cidade junto com anatureza.

A partir das 7 horas da manhã, o Instituto convida o público para receber o Peixe-Boi, vindo de barco da Praça Princesa Isabel, no bairro da Condor, para sobrevoar a multidão e iniciar o cortejo ao som do samba de cacete, cordão de pássaro, bangüê e carimbó. Enquanto, o público espera no cais da escadinha da Estação das Docas, os participantes das oficinas de dança, percussão e técnica circense realizam uma roda cantada para mergulhar na rítmica, no imaginário amazônico e na obra de compositores tradicionais e contemporâneos da música da região.

Programado para sair às 8h, o cortejo vai percorrer a Avenida Boulevard Castilhos França e retornar com destino à Praça dos Estivadores, onde os brincantes formam o círculo lúdico da vida com a roda ancestral. Homens, mulheres e crianças entoam cantos e executam ritmos e movimentações de danças tradicionais que evocam e reverenciam a ancestralidade do povo amazônico, construída sob a herança de matrizes africana, ribeirinha, indígena e europeia. A roda ancestral é uma forma de vivenciar as origens e raízes que formam o povo da Amazônia e garantira transmissão desses saberes para as novas gerações.

Circo, feira de produtos orgânicos e açaí

Essa é a 10 ª edição do Cordão do Peixe-Boi e a ação conta ainda com os parceiros: Sindifisco Nacional, Funtelpa, Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, Serviço de Atendimento Médico de Emergência e Resgate (Samer), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), Point do Açaí, Centro Cultural Sesc Boulevard,  Instituto Amigos da Floresta Amazônica (Asflora), Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), Federação das Associações de Apicultores do Estado do Pará (Fapic),  Universidade Federal do Pará (Ufpa), Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Terra Firme (Concaves), Associação de Produtores  Orgânicos do Estado do Pará – Pará Orgânico, Grupo de Carimbó Sancari, EntreAtos  Cia de Artes e Conexão Vivo.

Composto por músicos, dançarinos e elementos do universo ribeirinho, o cortejo se enche de magia e encanto com as técnicas dos artistas circenses do Instituto Arraial do Pavulagem, em parceria com a EntreAtos Cia de Artes. Este ano, moças e rapazes vão encarnar nas pernas-de-pau personagens do universo encantado das lendas marajoaras. Uma encenação cujos detalhes a oficineira de técnica circense Lu Maués guarda muito bem, revelando apenas na hora do espetáculo. “A perna-de-pau é um elemento muito lúdico nos cortejos. As crianças adoram, é bonito. É uma das técnicas circense que mais funcionaram no Arraial, talvez outras não tivessem dado certo, mas casou com a proposta, é um elemento de rua assim como os cortejos do Arraial”, avalia a arte-educadora, atriz e oficineira de técnica circense Lu Maués.

Na praça dos estivadores haverá ainda uma feira de produtos orgânicos, promovida pelo Instituto Arraial do Pavulagem em parceria com a Prefeitura de Belém e Associação de Produtores Orgânicos do Estado do Pará – Pará Orgânico. A feira reunirá agricultores familiares e produtores da Região Metropolitana de Belém, ilhas e outros municípios como Capitão Poço, Benevides e Marituba. Serão comercializados a preços acessíveis produtos como hortaliças, frutas, ervas, plantas medicinais, entre outros, vendidos pelos próprios produtores, o que garante a negociação na hora da compra. A ideia é conscientizar a população, incentivar e popularizar o consumo de produtos livres de agrotóxicos e fertilizantes.

 O local também terá venda de açaí, feita pelos parceiros do Point do Açaí, cujo ponto mais recente fica ao lado da sede do Arraial do Pavulagem na Praça dos Estivadores. É a primeira aliança entre o Point o Instituto, “É o casamento perfeito entre duas culturas, a do açaí e a de frequentar os arrastões do Arraial. A gente vai ser parceiro de todas as ações do Instituto de agora em diante. É um sonho nosso. A gente vai suspender a venda de bebida alcoólica, já que se trata de um evento familiar e o próprio Arraial não apoia a venda de bebida em seus eventos, a gente aderiu”, afirma o proprietário do Point, Nazareno Alves.



 A praça acolherá ainda o espaçocriança, montado em frente ao Banco Central, onde haverá atividades lúdicaspara a criançada, como oficina de pintura e desenho. A banda Arraial do Pavulagem faz o show de encerramento da programação, reverenciando a décadareverenciando a cultura popular e o meio ambiente.

SERVIÇO:

Cordão do Peixe-Boi 2012, 25 de março (domingo), concentração às 7h na Escadinha da Estação das Docas.Todas as músicas do Brilho da Aurora, Roda Cantada e Roda Ancestral estão disponíveis no blog www.arraialdosaber.blogspot.com/

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