terça-feira, 21 de junho de 2011

Chamou pavulagem, vaqueiro?

Fotos: Elcimar Neves
 

A terra treme quando o Arrastão do Pavulagem passa. É um tremor que vem da energia e da vibração de quem participa dessa grande festa da cultura popular paraense. Todo domingo, até 3 de julho, vai ser assim,  uma explosão de alegria, cor e música pelas ruas da cidade, levando milhares de pessoas a acompanharem o cortejo pela avenida Presidente Vargas, no centro de Belém, ao som de carimbó, quadrilha e boi-bumbá. O evento termina na Praça da República com o show da banda Arraial do Pavulagem e convidados. A concentração começa a partir das 9 horas, na Praça dos Estivadores, na rua Boulevard Castilhos França, em frente à Estação das Docas. 


Roda cantada na concentração do cortejo

Em 2011, o Arraial do Pavulagem completa 25 anos de atividades culturais na Amazônia e celebra essa história com o Arrastão do Boi Pavulagem, que este ano tem patrocínio da VIVO, através da Lei Semear, da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, Secretaria de Estado de Cultura de Governo do Pará. Além disso, o Arraial agora faz parte do programa CONEXÃO VIVO, integrando uma rede composta por mais de cem projetos musicais de todo o Brasil, dialogando e se conectando a um mecanismo inédito de fomento à produção cultural para aproximar toda a comunidade, artistas e produtores em prol do desenvolvimento cultural do país.

Cortejo subindo a avenida Presidente Vargas

No último domingo, 19 de junho, cerca de quatro mil pessoas percorreram a avenida Presidente Vargas ao lado do Batalhão da Estrela e do Boi Pavulagem. O Batalhão é uma comitiva formada em média por 500 brincantes, como dançarinos, pernas-de-pau, percussionistas, cavalinhos, cabeçudos, entre outros participantes. A maioria deles se prepara por quase 30 dias em oficinas e ensaios gratuitos de canto popular, dança, artes circenses e percussão, ministradas por educadores do Instituto Arraial do Pavulagem, uma ONG criada em 2003 pelos músicos do Arraial. 

Criançada na ala dos cavalinhos

A aposentada Sônia Santos, de 62 anos, foi conferir o desempenho do neto, João Pedro, 8 anos. O pequeno João sai  em um dos cavalinho da ala das crianças desde os 4 anos de idade.  “Eu trouxe pra ele dar uma olhada e ele gostou. Agora toda a vez que chega a época ele já convida”, diz.

Bonecos cabeçucos, cultura popular da Amazônia


O Batalhão da Estrela dá ritmo, movimento e vida ao Arrastão, ao mesclar-se com os símbolos da festa: o Boi Pavulagem, os vaqueiros, os bonecos cabeçudos, os mastros de São João erguidos na Praça da República no primeiro domingo do cortejo. Esses elementos se recombinam a bandeiras e estandartes, e aos tradicionais bois convidados para a festa, como os bois ‘Boi Malhadinho’, do Guamá; e ‘Orube’, do Conjunto Satélite. 

Músico da orquestra de metais

O ‘Boi Moleque’, do município de Ponta de Pedras, no interior do Pará, também marcou presença no folguedo. Além dele, Mestre Cardoso, guardião do ‘Boi Ouro Fino’, prestigiou o Arrastão e participou do show da banda Arraial do Pavulagem com suas toadas de boi que encantam adultos e crianças. “Eu sinto uma emoção, me sinto satisfeito”, afirmou, ao se referir aos convites anuais do Arraial do Pavulagem para ter o Mestre no cortejo.

Som que contagia
Quando os músicos do Batalhão da Estrela começam a tocar, o ritmo frenético dos instrumentos penetra o corpo e traduz em movimentos a sonoridade que vem do Batalhão. E em poucos minutos, esses movimentos ganham adeptos involuntários, porque o corpo simplesmente não consegue resistir ao batuque. 

Percussionistas do Batalhão da Estrela

Integrantes do Batalhão da Estrela na avenida Presidente Vargas


A estudante de Nutrição Raquel Carvalho, 30, há quatro anos se deixa levar pelo ritmo do Batalhão. Segundo ela, a emoção das pessoas acaba contagiando todos ao redor. “É a energia e que eles continuem nessa vibração, nessa garra que é muito boa”, desejava Raquel.


Cortejo atravessando o centro de Belém

Há sete anos, desde que o casal Sílvio e Flávio Lopes se conheceu, dia de domingo de junho é no Arrastão do Pavulagem. E a dupla ganhou uma companheira mirim, a filha Sofia, de 3 anos, que já acompanhava na barriga da mãe as folias do Pavulagem. Os olhos de Sofia não tinham tempo para desviar a atenção do cortejo. Eles observavam cada detalhe lá do alto do colo do pai de Sofia. E a menina ainda cantava todas as músicas executadas pelo Batalhão da Estrela.

Pernas de pau do Batalhão da Estrela, magia do circo no folguedo
“Eu só tenho a parabenizar o Arraial, que essa força não acabe nunca. Ele é um ícone da cultura do nosso estado, acho que talvez seja a maior manifestação cultura de Belém hoje”, acredita o coordenador comercial. 

Participações especiais
O Arrastão do Pavulagem saiu às 10h30 da Praça dos Estivadores em Belém e durante um hora percorreu a avenida Presidente Vargas até o destino: a Praça da República. E já havia uma plateia à espera do show da banda Arraial do Pavulagem, que começaria logo após a chedada do cortejo.  

O repertório da banda foi diversificado, mesclando antigas e novas canções e vários ritmos, como xote, carimbó, retumbão, quadrilha, toadas de boi, e contou ainda com participação de artistas da terra, como a cantora Luê Soares, a primeira a se apresentar, com a música ‘Nós Dois’, de Ronaldo Silva e Júnior Soares. Nos bastidores, enquanto aguardava ser chamada, Luê vibrava com a alegria do público que cantava, dançava e pulava a cada música. “Lindo, lindo”, ela dizia, mesmo sendo suspeitíssima para falar, já que um dos fundadores do Pavulagem é seu pai, o músico Júnior Soares.


Mestre Cardoso, guardião do Boi Ouro Fino, de Ourém (PA)

Hellen Patrícia, vocalista da banda Cheiro Verde, também deu uma canja no palco ao cantar “Esse rio é minha rua”, homenagem ao carimbó de Paulo André e Ruy Barata. “É uma alegria imensa estar aqui. Vida longa ao Arraial do Pavulagem. Meu filho de 13 anos vem para todos os arrastões. Desejo mais sucesso ainda ao Arraial, cultivar a nossa cultura é muito importante e eles são essenciais pra isso”, opinou a cantora.

Público durante 'Inciais BP', tradiconal canção do Arraial do Pavulagem

Os artistas Mestre Cardoso, Allan Carvalho e Mestre Apollo, Henrique Sena e Lúcio Mousinho participaram na sequência. O Arraial do Pavulagem encerrou o Arrastão com “Iniciais BP”, um clássico da banda tocado todos os anos, em todos os cortejos e que sempre faz a multidão, estimada em mais de 15 mil pessoas, delirar, jogando o chapéu de palha com fitas coloridas para o alto e enchendo de cor a paisagem.

Apoios e Parcerias:
O Arrastão do Pavulagem é um dos três cortejos culturais desenvolvidos pelo Instituto e pelo grupo Arraial do Pavulagem. Além dos patrocinadores, ele vai para a rua mais uma vez graças ao apoio e a parceira de diversas entidades e órgãos, entre eles:
Projeto Música para Todos II, por meio da Musikart Produções Culturais; Sindifisco; EntreAtos Companhia de ArtesServiço de Atendimento Médico de Emergência e Resgate (Samer); Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará; Polícia Militar;  Fundação Cultural do Município de Belém – (FUMBEL); Secretaria Municipal de Economia (SECON); Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN); Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA); Companhia de Transportes do Município de Belém (CTBel), Guarda Municipal de Belém; Prefeitura de Belém.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não permitimos comentários anônimos, nem palavras ofensivas. O blog é um espaço para debates e discussões, e não para xingamentos e distorções. Agradecemos sua colaboração por manter a qualidade e o nível do diálogo.